As tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, em vigor desde o início do mês, começam a gerar apreensão no setor logístico nacional. A medida, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump como retaliação comercial, pode comprometer o crescimento projetado entre 5% e 10% para o transporte de cargas em Minas Gerais em 2025.
Segundo Antonio Luis da Silva Junior, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg), a preocupação é com o chamado “efeito cascata”. O desempenho do segundo semestre costuma ser impulsionado pela Black Friday e pelas festas de fim de ano, períodos de reposição de estoques. Agora, há risco de retração, já que muitos embarcadores estão inseguros com os custos adicionais, avalia.
Embora o minério de ferro — uma das principais commodities exportadas por Minas — tenha ficado fora da taxação, produtos agrícolas relevantes, como o café, seguem tarifados. “Isso preocupa porque mexe em cadeias importantes do transporte no estado”, completa Silva Junior.
Reflexo em Santa Catarina
A FIESC alerta que 69,2% das exportadoras catarinenses já enfrentam queda nos pedidos dos Estados Unidos após a entrada em vigor das tarifas de 50%. Os impactos são expressivos: 72,1% das empresas projetam demissões, 93,8% preveem queda de faturamento e mais da metade (51,2%) estima perdas superiores a 30%. Santa Catarina desponta como o 4º estado mais afetado do país, com forte impacto em cadeias como madeira, móveis, máquinas e carnes.
Durante a abertura da feira Logistique, o secretário de Portos, Aeroportos e Ferrovias, Beto Martins, reforçou a gravidade do cenário, projetando que o “tarifaço” pode reduzir o PIB estadual em até R$ 1,8 bilhão. Segundo ele, a dependência catarinense da logística portuária e rodoviária amplia a vulnerabilidade do estado diante das restrições impostas
Em Santa Catarina, onde o Grupo Fetra atua em rotas estratégicas de assessoria, o impacto também é sentido. O estado registrou crescimento de 7,6% no setor de transportes entre janeiro e setembro de 2024, segundo dados do IBGE. A expectativa era de continuidade desse avanço em 2025, puxado pelo agronegócio e pela movimentação nos portos. Com as novas tarifas, no entanto, o ritmo pode desacelerar.
O impacto vai além da exportação direta aos EUA. “Quando um produto brasileiro perde competitividade no mercado internacional, a cadeia toda sente. Isso significa menos cargas para transportar, mais ociosidade na frota e, consequentemente, repasse de custos para outros segmentos, como o mercado interno”, analisa Vitor Hoffman, CRO do Grupo Fetra.
Vitor destaca ainda que a elevação das tarifas deve pressionar especialmente transportadoras que atuam em rotas de longa distância e no escoamento de commodities agrícolas. “No caso do café mineiro e das carnes catarinenses, os custos adicionais podem inviabilizar operações que, até ontem, eram rentáveis”, diz.
Segundo o setor, o cenário ainda é de incerteza. Mas a percepção é de que a curva de crescimento projetada para 2025 pode ser frustrada se não houver uma solução diplomática.