Por Gilda Portella
É com orgulho e força ancestral que celebramos a conquista de Silviane Ramos Lopes da Silva e do coletivo Potências Negras Criativas, premiadas na 37ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, uma das principais premiações institucionais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Nesta edição, o prêmio teve como foco especial as questões de gênero e a valorização do patrimônio enquanto potência viva, plural e transformadora.
Idealizadora do projeto, Silviane é natural de Mato Grosso e, junto de suas companheiras de caminhada, transformou o que era sonho em movimento coletivo, enraizado em saberes ancestrais, práticas criativas e resistência cotidiana.
O Potências Negras Criativas nasceu da urgência de valorizar os saberes, fazeres e trajetórias de mulheres negras, atuando na economia criativa como ferramenta de emancipação, visibilidade e reconhecimento. Com o tempo, o coletivo ampliou sua atuação, incorporando novos autores sociais — todos autodeclarados negros — que passaram a compor essa constelação de talentos que faz da cultura uma linguagem de poder e pertencimento.
Hoje, o projeto já está presente em 15 estados brasileiros, articulando oficinas, feiras, formações e redes solidárias. “De Mato Grosso para o mundo”, como costumam dizer, o Potências Negras Criativas é, hoje, um quilombo contemporâneo de inovação cultural, promovendo encontros entre arte, memória, território e empreendedorismo negro.
Receber o prêmio Rodrigo de Mello, como o coletivo carinhosamente o chama, é muito mais que uma celebração institucional — é o reconhecimento de um legado que se constrói com afeto, estratégia e compromisso coletivo. A 38ª edição da premiação já aponta para novos horizontes, e carrega no peito a força de um projeto que segue semeando futuros possíveis.
Trata-se do outono de um aquilombamento coletivo, como bem definem as criadoras: um tempo fértil de colheita, onde cada estado participante soma força à rede e amplia o alcance dessa potência nacional.
Silviane Ramos Lopes da Silva, ao lado de suas companheiras, segue abrindo caminhos. Mais do que idealizadora, ela é uma articuladora de afetos, de oportunidades e de novas centralidades para vozes que historicamente foram silenciadas. O Potências Negras Criativas é prova de que quando mulheres negras se juntam para criar, cuidar e projetar, transformam o mundo.
Axé e longa vida ao Potências!
