A rotina intensa de dezembro, que combina trabalho, compromissos sociais e preparação das ceias, aumenta o risco de dor nas pernas, lombar e ombros. A Dra. Mariana Milazzotto explica por que o corpo sente tanto nessa época e orienta como reduzir o impacto
O mês de dezembro altera completamente o ritmo de vida das brasileiras. Entre compromissos profissionais, festas de confraternização, compras de última hora e a responsabilidade de organizar as celebrações familiares, as mulheres somam longos períodos em pé, esforços repetitivos e noites mal dormidas. O resultado aparece no final do dia, quando o que deveria ser um momento de celebração se transforma em dor, cansaço extremo e sensação de peso nas pernas.
Levantamento da Associação Brasileira de Qualidade de Vida mostra que 64% das mulheres relatam dor nas pernas após longas horas em pé em períodos de alta demanda física. Um estudo publicado pelo Journal of Physical Therapy Science identificou que a permanência prolongada em pé aumenta a ativação muscular estática e reduz a circulação, dois fatores que intensificam dores lombares e em membros inferiores.
Para a fisioterapeuta Dra. Mariana Milazzotto, mestre em Ciências Médicas, esse cenário se repete todos os anos. A sobrecarga é multidimensional e atinge perfis diferentes de mulheres. A dona de casa que assume sozinha toda a preparação da ceia, a mulher que acumula jornada dupla entre trabalho e organização doméstica e a executiva que participa de vários eventos corporativos vivem pressões distintas, mas enfrentam impactos semelhantes no corpo. Ela afirma que o problema não está apenas no excesso de tarefas. O corpo responde de forma direta à soma de estresse, fadiga, impacto articular e falta de pausas.
A fisioterapeuta destaca que as queixas mais comuns de dezembro envolvem dor lombar, sensação de peso nas pernas, inchaço, dor nos ombros e desconforto nos pés. Mulheres com condições inflamatórias crônicas, como o lipedema, relatam agravamento importante, sobretudo após períodos prolongados em pé ou longas caminhadas durante as compras de fim de ano.
A Dra. Mariana explica que, no caso das mulheres, dezembro costuma gerar um padrão de sobrecarga física maior. Enquanto grande parte dos homens se envolve pontualmente nas celebrações, muitas mulheres assumem a coordenação das preparações. Isso inclui carregar compras, cozinhar por horas, organizar a casa, participar de eventos sociais e manter o desempenho no trabalho. Ela afirma que esse acúmulo produz impactos diretos na musculatura e nas articulações.
Segundo a fisioterapeuta, alguns ajustes simples ajudam a reduzir o impacto do período. Ela recomenda alternar tarefas que exigem permanência prolongada em pé com momentos de sentar e relaxar a musculatura das pernas, dividir o peso das compras, ajustar a altura da bancada para evitar sobrecarga lombar e adotar calçados mais estáveis durante as atividades domésticas intensas. Para as mulheres que passam o dia inteiro em eventos corporativos antes de chegar em casa, ela indica pausas de cinco minutos entre compromissos para relaxar os ombros, alongar a região cervical e movimentar tornozelos.
A orientação também vale para o período pós-preparações. Ao final de um dia intenso, a fisioterapeuta recomenda elevar as pernas por alguns minutos para melhorar o retorno venoso, aplicar compressas frias em regiões doloridas e realizar movimentos leves de mobilidade de quadris e tornozelos. Para quem convive com lipedema ou tendência ao inchaço, o uso de meias compressivas no fim do dia e no dia seguinte ajuda a reduzir o desconforto.
Mariana reforça que a prevenção envolve organização. A distribuição de tarefas entre familiares evita que uma única pessoa carregue toda a responsabilidade. Ela explica que as mulheres precisam considerar a própria saúde como parte da preparação das festas, não apenas o resultado final. Para a fisioterapeuta, o cuidado imediato protege o corpo e aumenta a chance de viver as celebrações com prazer, energia e menor risco de dor.
O aumento da sobrecarga feminina em dezembro também aparece em dados de saúde pública. A Fundação Oswaldo Cruz aponta que períodos de estresse acumulado elevam marcadores inflamatórios e pioram condições de dor crônica. A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia identificou aumento de queixas relacionadas à coluna no mês de dezembro, associado ao excesso de esforços e à alteração brusca de rotina. Para Mariana Milazzotto, esses indicadores reforçam a urgência de orientar as mulheres antes do período crítico.
Ela afirma que a mensagem central é simples. O corpo responde ao ritmo de dezembro e precisa de medidas específicas para não entrar em exaustão. Com ajustes no dia a dia e consciência da própria sobrecarga, as mulheres conseguem reduzir dores e aproveitar as celebrações com mais conforto. O objetivo é permitir que o fim do ano seja vivido como um momento de encontro e alegria, não de dor e exaustão física.