A rodovia MT-322, considerada uma das principais vias para o desenvolvimento econômico e social do Norte Araguaia, tem sido foco de uma batalha política, ambiental e logística há anos. Entre promessas de pavimentação, entraves burocráticos e desafios estruturais, a população segue refém de uma estrada precária e frequentemente interditada. Nos bastidores, porém, há movimentações intensas para destravar essa obra tão esperada.
Raoni na defesa da pavimentação e decisão da Funai
A presença do cacique Raoni Metuktire, uma das maiores lideranças indígenas do Brasil, foi um dos fatores mais emblemáticos dessa negociação. Em um gesto simbólico e estratégico, Raoni se reuniu com o governador Mauro Mendes e lideranças estaduais em Brasília, reforçando que a pavimentação da MT-322 não representa um risco ambiental intransponível, desde que seja feita com responsabilidade. Para o cacique, a estrada pavimentada pode beneficiar as comunidades indígenas e tradicionais, desde que seja respeitado o território e garantido um monitoramento ambiental adequado.
Esse posicionamento influenciou diretamente na decisão da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que passou a considerar a obra com menos resistência. Em reuniões recentes, a Funai indicou que não irá se opor à pavimentação, desde que todas as licenças ambientais sejam cumpridas e medidas mitigatórias sejam implementadas. Essa flexibilização abriu um novo caminho para o projeto.

Mobilização dos Prefeitos
O prefeito de São Félix do Araguaia, Dr. Acácio, tem se destacado na liderança desse movimento. Em reunião realizada em Brasília, ele esteve ao lado do governador e do cacique Raoni, reforçando a importância da pavimentação para a região. Dr. Acácio enfatizou que a obra é um símbolo de progresso, segurança e oportunidades para a população local.
Da mesma forma, o prefeito de São José do Xingu, Dr. Sandro, tem alertado para os impactos da falta de infraestrutura na MT-322, especialmente na área da saúde. Ele destacou que a precariedade da estrada compromete serviços essenciais, como o atendimento médico emergencial, dificultando o acesso de ambulâncias e colocando em risco a vida dos moradores.
Outros gestores municipais, como o prefeito de Matupá, Bruno Mena, também têm se manifestado sobre a relevância da MT-322 para seus municípios e regiões vizinhas. Eles ressaltam que a pavimentação da rodovia é crucial para o escoamento da produção agrícola e para a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais.


Pedido ousado ao IBAMA: delegação de licenças para Mato Grosso
O governador Mauro Mendes, ao perceber que as autorizações ambientais poderiam atrasar a obra, adotou uma estratégia agressiva para acelerar o processo. Durante um encontro com o presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, Mendes propôs que a União delegasse ao próprio Estado de Mato Grosso a autonomia para conceder as licenças ambientais da obra. Essa medida daria agilidade ao processo, evitando longas análises em Brasília e possibilitando que Mato Grosso assumisse o controle da burocracia ambiental.
Em sua declaração, o governador ressaltou que “o Estado está comprometido em atender todas as exigências ambientais e burocráticas para que o projeto avance com agilidade” e argumentou que a estrutura estadual tem capacidade técnica para conduzir as avaliações ambientais com o mesmo rigor exigido pelo IBAMA. A decisão ainda aguarda uma resposta oficial, mas nos bastidores há otimismo de que essa proposta pode ser aceita, uma vez que aceleraria o andamento das obras sem comprometer a fiscalização ambiental.
Trecho interditado e o caos na infraestrutura
Enquanto as negociações seguem, a realidade na MT-322 continua crítica. Em novembro de 2024, a rodovia sofreu uma interdição na altura do distrito de Espigão do Leste, após um bueiro ser levado pela força das águas, bloqueando completamente a via. O incidente deixou motoristas e caminhoneiros presos, gerando um caos logístico para o transporte de grãos e mercadorias.

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A destruição do trecho reacendeu a indignação da população e reforçou a necessidade urgente de pavimentação. Moradores da região relataram que a precariedade da rodovia afeta diretamente o comércio, o escoamento da produção agrícola e até mesmo os serviços de saúde, já que ambulâncias enfrentam dificuldades para trafegar pelo trecho interditado.
De promessas à execução: qual o próximo passo?
A pavimentação da MT-322 é vista como uma das prioridades para o governo do Estado e, agora, tem respaldo tanto de autoridades estaduais quanto de lideranças indígenas. Com a flexibilização da Funai, a expectativa recai sobre a decisão do IBAMA. Se a delegação de licenças for concedida a Mato Grosso, o Estado poderá iniciar a obra ainda este ano, finalmente transformando promessas em asfalto.
No entanto, a população segue atenta. O histórico de adiamentos e entraves burocráticos gera desconfiança, e os moradores querem ver mais do que discursos: querem máquinas trabalhando na estrada. Agora, a pressão está sobre o governo federal e os órgãos ambientais, que terão que decidir se facilitam o avanço da obra ou se manterão os obstáculos regulatórios.
Por ora, a MT-322 continua como um símbolo da luta entre desenvolvimento e burocracia, enquanto os que dependem da estrada aguardam, esperançosos, por uma solução definitiva.
MT-322
A MT-322 é uma rodovia estratégica para a região do Norte Araguaia, em Mato Grosso, e sua pavimentação é considerada essencial para o desenvolvimento da região. Atualmente, a estrada liga vários municípios, sendo um importante corredor logístico para o transporte de grãos, gado e mercadorias.
Os principais municípios conectados pela MT-322 incluem: Novo Santo Antônio; São Félix do Araguaia; Alto Boa Vista; Bom Jesus do Araguaia; Serra Nova Dourada; Vila Rica e Santa Cruz do Xingu.
A rodovia também faz a ligação entre a BR-158 e a BR-080, servindo como uma alternativa para o tráfego pesado da BR-158, que ainda tem trechos não asfaltados dentro de terras indígenas. A pavimentação da MT-322 pode desafogar essa rota e beneficiar diretamente a economia regional, facilitando o escoamento da produção agrícola e o transporte de bens e serviços.
Além disso, a rodovia conecta pequenas comunidades rurais, assentamentos e terras indígenas, sendo fundamental para a mobilidade dos moradores e para o acesso a serviços essenciais, como saúde e educação.